Histórico

LONGA HISTÓRIA

           Ao lado, fachada atual do prédio, na avenida Mauro Ramos; abaixo1, o asilo em foto de 1919, quando a cidade ainda era servida pelos bondes puxados por burros; abaixo2, imagem do Irmão Joaquim, patrono da entidade; abaixo3, idosos atendidos pelo asilo; e abaixo4, o jardim da instituição.


FILANTROPIA CENTENÁRIA
Associação Irmão Joaquim completa cem anos em 2002 mantendo atividades diversas, entre elas o amparo aos idosos

          A Associação Irmão Joaquim completa cem anos em quatro de julho. Constituída para cuidar dos pedintes que circulavam em Florianópolis e moravam sob pontes ou no interior de casas em ruínas, a entidade tratou logo no início de promover a construção do "Asylo de Mendicidade Irmão Joaquim", na então rua José Veiga, atual avenida Mauro Ramos, inaugurado em duas etapas, em 1910 e 1911. A construção fazia parte de um processo de modernização e higienização que a cidade viveu nas duas primeiras décadas do século 20, época em que a água potável foi encanada e construídas as redes de esgoto e de energia elétrica.

        Durante esse período a população ganhava também a comodidade do transporte coletivo, com bondinhos sobre trilhos puxados por burro. Havia duas linhas. Uma delas passava justamente em frente ao asilo e fazia o percurso Agronômica, rua Mauro Ramos, General Bittencourt e rua Fernando Machado. A segunda linha compreendia o trajeto da rua Trompowski, região do morro do Céu (Beiramar Shopping) e Bocaiúva. A área onde estava sendo construído o asilo já era uma região nobre da cidade.

        A associação foi criada por católicos da Catedral Metropolitana e por maçons. A pobreza extrema era observada principalmente em mulatos, mas existiam também brancos em situação de miséria. Segundo o professor Nereu do Vale Pereira, autor de títulos relacionados à história da cidade e que finaliza o livro "Associação Irmão Joaquim - 100 Anos de Amor ao Próximo", a ser publicado no centenário da entidade, a imprensa da época era caudalosa no registro de "maltrapilhos, famintos, ulcerados e aleijões", que habitavam o submundo da cidade. A cena era observada principalmente no jornal "O Estado", que "narrava episódios dantescos de gente jogada em porões e sob pontes", acrescenta Nereu. Uma das pontes ficava sobre o rio da Bulha, atualmente denominado canal da avenida Hercílio Luz.

       Entre 1902 e 1910, antes do término da construção do asilo, o informativo "A Fé - Orgam da Associação Irmão Joaquim - Protectora dos Necessitados", cadastrava pobres e lhes fornecia semanalmente dinheiro, pão e carne na sede da entidade, localizada na rua João Pinto. A primeira etapa do asilo, inaugurada em 1910, tinha capacidade para 20 internos, e abrigava somente homens. A conclusão da ala esquerda do prédio, em 1911, abrigava 20 mulheres.

      Nessa nova etapa de obras, está incluindo também o pequeno pavilhão central, que servia de sede para a associação. A foto mais antiga do prédio é de 1919, ainda com o bonde puxado por burros circulando pela estrada de barro em frente do prédio. Em 1921, o asilo abrigava 10 homens e 30 mulheres, geralmente viúvas que ficavam desasistidas depois da morte do marido, já que naquela época não havia pensão previdenciária.

      Até os anos 1930, independentemente das pessoas que mantinha internadas, a associação ainda distribuía gêneros alimentícios para os mais carentes, na pequena cidade de então que possuía uma população em torno de 35 mil habitantes. Atualmente, o asilo abriga 35 idosos e possui a capela Irmão Joaquim, construída em 1952.


MATERNIDADE
 
      Já em 1919, a associação iniciava uma campanha para construir a primeira maternidade de Santa Catarina. A obra foi iniciada pelo governo estadual de Gustavo Richard, aos fundos do asilo, na avenida Hercílio Luz, mas as obras foram transferidas para a associação quando ainda estavam na fase de construção dos alicerces. Em setembro de 1926, a maternidade recebia suas primeiras parturientes, e era inaugurada oficialmente em 1927, com o nome maternidade Florianópolis.

     A denominação só mudaria para Carlos Corrêa em 1948. O novo nome homenageava o médico que trabalhou como voluntário no asilo. Carlos Corrêa teria nascido no Rio de Janeiro, filho de um maranhense casado com uma nativa da Ilha de Santa Catarina. Depois de graduado médico no Rio, Carlos veio para Florianópolis e, assim como o pai, também casou com uma florianopolitana. Carlos foi o primeiro diretor da maternidade, em 1927 e morreu em 1947. A homenagem veio em 1948.

     Inicialmente, a maternidade Florianópolis atendia somente parturientes pobres, afinal havia sido criada com este objetivo. As mulheres de famílias que dispunham de recursos, tinham seus filhos em casa, assistidas por parteiras ou pelo médico de família. Em 1930, a maternidade começou a atender em caráter particular, alugando quartos para parturientes interessadas em dar à luz seus filhos sob assistência médica.

     Em 1930, foram construídos o centro cirúrgico e quartos individuais na maternidade, e o prédio do asilo passou por uma nova ampliação. Outras obras na maternidade Carlos Corrêa aconteceram em 1952, com ampliação e nova sala de partos, com a construção da ala da rua Emílio Blum e instalação do novo centro cirúrgico, que foi modernizado para reinauguração em 4 de julho de 2002, no centenário da irmandade.


RELIGIOSO PODE SER BEATIFICADO

    Joaquim Francisco da Costa, o Irmão Joaquim, nasceu em 20 de março de 1761, na casa de seus pais, na rua Bela do Senado, nº 4, atual calçadão da Felipe Schmidt, sob o signo do cristianismo. O religioso veio ao mundo numa Sexta-feira Santa, quando passava em frente de sua casa a procissão do Senhor Morto. Seus pais, Tomaz Francisco da Costa e Mariana Jacinta da Vitória, eram provenientes da Ilha do Faial, do arquipélago de Açores, e chegaram em Florianópolis em janeiro de 1748, na primeira leva dos imigrantes das ilhas do Atlântico Norte que vieram para a Ilha de Santa Catarina. Tomaz e Mariana faziam parte do grupo de moradores que fundou a Irmandade do Nosso Senhor dos Passos, em 1762, e da criação do Hospital de Caridade dos Pobres, em 1882.

      Irmão Joaquim era de uma generosidade extraordinária. Freqüentador da Catedral Metropolitana, aos 18 anos saiu pelo mundo como irmão religioso, sem os votos oficiais, e com o objetivo de arrecadar fundos para construção do hospital de caridade. Levava uma imagem de Nossa Senhora do Livramento, hoje abrigada na capela do Menino Deus, do hospital de Caridade, e mudou o nome para para Joaquim Francisco do Livramento, numa alusão à santa de sua devoção. Em 1784 passou a integrar a Ordem Terceira Franciscana e a usar o hábito.

     Joaquim peregrinou a pé pelo litoral catarinense e viajou pelos três Estados do Sul, por São Paulo e Rio de Janeiro, e esteve no Vaticano, Portugal, Espanha, França e Itália com a finalidade de arrecadar fundos para construção de seu sonho. Em Porto Alegre, Joaquim fundou a Santa Casa de Misericórdia, dinamizou a Santa Casa de Santos, e fundou seminários em Itu e na Bahia, Rio e São Paulo. Em Florianópolis há o desejo de beatificação na irmandade do Senhor Jesus dos Passos, liderado pelo seu capelão, o padre Pedro José Koehler. A intenção é solicitar ao arcebispo dom Murilo Ramos Krieger a abertura de um processo de beatificação.

     Em sua trajetória, Joaquim desejava ser padre, mas dizia que não achava-se digno da função. Usava batina e pedia esmola pelos pobres e acabou morrendo longe do Brasil. Irmão Joaquim faleceu em 1829, mas não há informações exatas sobre o dia e o mês. O religioso estava com 68 anos e depois de visitar o Papa, aguardava em Marselha, cidade portuária francesa, uma embarcação para voltar ao Brasil. Seus restos mortais permanecem na Europa.(JL)

Fonte: AN Capital
Texto Jeferson Lima
Fotos James Tavares